A SEXUALIDADE COMO UMA CONSTANTE NO COTIDIANO

 

A SEXUALIDADE COMO UMA CONSTANTE NO COTIDIANO ESCOLAR

 

PAULA, Gilmar Alves de

MOTTA, Ninfa da Silva

 

RESUMO

 

O presente texto busca a percepção de como devem os profissionais da educação, lidar com as questões ligadas à sexualidade e à sua presença constante no cotidiano escolar, vivido por crianças, adolescentes e jovens, em contato com todas as formas de informação, positivas ou negativas. Para sua realização foi necessário que se organizasse e efetivasse uma pesquisa bibliográfica através de textos oficiais como os Parâmetros Curriculares Nacionais da educação, através de livros, revistas e também através de artigos da Internet, onde foi encontrado o embasamento teórico que permitiu a elaboração das discussões aqui presentes, bem como o levantamento de questões a serem discutidas e rediscutidas na busca de caminhos que permitam superar as dificuldades que se interpõe entre os adolescentes e o exercício pleno de seu direito à informação clara e objetiva e não aos silêncios, à repressão, à falta de diálogo e de conhecimento, que parece ser o panorama atual.

 

PALAVRAS-CHAVE: 1. Cotidiano escolar; 2. Adolescência; 3. Formação continuada.

 

INTRODUÇÃO

 

O texto ora construído busca atender à necessidade de se falar sobre a quase onipresença da sexualidade no cotidiano, especialmente no cotidiano escolar.

Essa necessidade se fez mais presente a partir das discussões realizadas no decorrer do processo de Formação continuada “Sala do Professor” para o Ensino Fundamental – Psicopedagogia Clínica Educacional promovido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Lambari d’Oeste – MT.

 

Foram realizadas pesquisas bibliográficas em textos escritos, documentários, artigos na internet, revistas especializadas em Orientação Sexual e, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Procurou-se perceber as manifestações da sexualidade, que se fazem presentes em todas as faixas etárias, com especial destaque para as fases da adolescência.

Fugir da discussão sobre tal assunto é uma constante nas famílias e nas escolas. É necessário superar as falhas de comunicação de maneira a encontrar um caminho que permita aos profissionais da educação oferecer apoio, informações e não repressão ou falta de respostas, aos questionamentos adolescentes.

 

 

2. A SEXUALIDADE COMO UMA CONSTANTE NO COTIDIANO ESCOLAR

 

A escola é o ambiente da educação por excelência, no entanto, é também o ambiente onde se sabe que a falta de informação sobre assuntos do cotidiano é uma constante, especialmente no que diz respeito à sexualidade.

Esse quadro começou a sofrer alterações nos anos 1990, quando o Governo Federal instituiu os Parâmetros Curriculares Nacionais, com novas orientações curriculares e diretrizes para a educação.

A partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais, tornou-se obrigatório nas escolas, que fossem tratados em todas as disciplinas e/ou áreas de conhecimento, temas como ética, cidadania e orientação sexual, buscando com isso que a informação chegasse de maneira clara a crianças, adolescentes e jovens.

Há ainda muitas falhas a serem sanadas nesse processo, sendo a formação de profissionais da educação para tratarem com questões ligadas especificamente à Orientação Sexual, mas já houve avanços no que diz respeito a tais questões.

No entanto, há ainda déficit de informação, talvez movido pelas dificuldades  por  parte  dos  próprios  profissionais da educação, que por vezes

 

 

não conseguem lidar com naturalidade com as dúvidas e/ou problemas ligados à sexualidade no cotidiano escolar.

Considerando que crianças e adolescentes encontram-se em fases da sua vida em que tudo é novo, tudo é mudança, cabe aos profissionais da educação buscar suporte teórico e metodológico, tornando-se aptos a lidar com  tais questões quando elas se apresentarem e, devem estar aptos a fazê-lo de forma clara, transparente, evitando dar respostas que possam vir a confundir os alunos e que possam trazer ainda mais dúvidas e questionamentos.

Na tentativa de sanar, ou pelo menos diminuir tais dificuldades nas escolas municipais do Município de Lambari d’Oeste, foi idealizado o presente projeto de Formação Continuada “Sala Do Professor” Para O Ensino Fundamental – Psicopedagogia Clínica Educacional, promovido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Lambari d’Oeste – MT.

 

 

2.1. Fases da Adolescência e a sexualidade

 

Quando se fala em cotidiano escolar, é indispensável e necessário falar na sua clientela básica – crianças, adolescentes, jovens -, bem como dos profissionais da educação, que lidam com essa clientela que está etapas diferenciadas da vida e apresentam então, necessidades diferentes.

A fase em que as dificuldades com respeito à sexualidade se tornam ainda maiores é a chamada fase da adolescência, no entanto a busca por resposta começa ainda na infância, quando a criança quer saber como chegou na casa em que mora, de onde saiu, entre outras dúvidas e esse quadro vai se tornando mais complexo conforme a idade vai aumentando.

O período em que as manifestações de dúvidas e/ou comportamentos com manifestações de sexualidade são ainda mais constantes é a adolescência e, de acordo com Taquete (2011) é o chamado

Período pubertário - O início da puberdade, com o estímulo dos hormônios sexuais, propicia uma intensificação das emoções sexuais. Com  o  desenvolvimento  do  corpo  e  dos  órgãos  genitais,  há   um aumento do desejo sexual, que agora tem um órgão sexual pronto para consumá-lo. A masturbação volta a ser freqüente, não mais como uma atividade auto-erótica e sim com um fim sexual (Knobel, 1984). Ou seja, na fase fálica as crianças se masturbam por sentir prazer neste ato. Na fase pubertária, em que os órgãos genitais estão em desenvolvimento, os adolescentes se masturbam pensando em alguém, imaginando um ato sexual. É nesta fase que ocorre o início da atividade sexual genital propriamente, a que Freud denominou “Fase genital”.

 

Esse período tão rico em transformações, em mudanças hormonais, em dúvidas, em questionamentos, em tomadas de atitudes, em buscas pelo desconhecido, ainda de acordo com a mesma autora, subdivide-se em

Adolescência precoce (10 aos 14 anos) - Esta é a fase da grande transformação biológica, em que o comportamento sexual depende destas mudanças físicas. Os adolescentes ficam se comparando uns aos outros e, como há uma grande variabilidade no desenvolvimento pubertário, os que ainda não se desenvolveram se sentem inferiorizados e os que já têm um corpo formado se angustiam com a nova postura que têm de assumir, sem ter ainda maturidade. Eles se sentem envergonhados e já não trocam de roupa na frente dos pais e irmãos. Têm dificuldade de conversar com adultos, principalmente com os pais, devido ao recrudescimento do complexo de Édipo, característico desta fase. O adolescente revive o triângulo edípico e teme a consumação do incesto, pois tem sensação erótica em relação aos pais; por isso sente dificuldade de contato físico com estes, em contraste com manifestações carinhosas anteriores.  Nesta etapa a sexualidade ainda é indiferenciada e a masturbação é a conduta sexual mais freqüente. As mudanças do corpo, neste período, são mais rápidas do que a capacidade dos adolescentes de assimilarem cada nova imagem que surge. Sintomas hipocondríacos e psicossomáticos são freqüentes, como: bulemia, anorexia, cefaléias, alergias, depressão, etc. Adolescência média (15-16 anos) - O relacionamento amoroso (namoro ou o “ficar” com alguém) geralmente se inicia nesta fase. Já há uma aceitação maior das transformações físicas, resultando em um corpo adulto com capacidade reprodutiva. As meninas tendem a usar roupas que expõem seu corpo sedutoramente. No namoro as carícias são progressivas até culminar com a relação sexual genital, que ocorre geralmente nesta fase. A sexualidade contribui com a autoestima do jovem e faz parte da formação da identidade do indivíduo. É durante a adolescência que se define e se consolida a identidade sexual. Pode haver relacionamentos e fantasias homossexuais que não implicam uma homossexualidade futura e sim uma experimentação sexual. (TAQUETE, 2011)

 

 

 

Como se pode perceber, cada fase da adolescência aqui representada, apresenta características próprias, dificuldades biológicas, psicológicas e sentimentais diferenciadas.

É com essa clientela que a escola lida, às vezes de forma homogênea, por vezes de forma ultrapassada, pois a escola também é formada por pessoas que tiveram uma formação deficitária no que diz respeito a lidar com a sexualidade, a própria e a alheia.

São essas dificuldades que a escola precisa superar para promover novos saberes, novas competências, novas formas de trabalhar com tantas efervescências  de  maneira  transparente,  sem  recair  na  mera  exposição de conceitos, evocação de imagens que nada tem a contribuir para a propagação de um discurso realmente esclarecedor.

É preciso ainda levar em conta o fato de que

 

O comportamento sexual de um indivíduo depende não só da etapa de desenvolvimento em que se encontra, como do contexto familiar e social em que vive. Na atualidade, a sociedade tem fornecido mensagens ambíguas aos jovens, deixando dúvidas em relação à época mais adequada para o início das relações sexuais. Ao mesmo tempo em que a atividade sexual na adolescência já é vista como um fato natural, largamente divulgado pela mídia, que estimula a aceitação social da gravidez fora do casamento, ainda se vêem a condenação moral e religiosa ao sexo antes do matrimônio e atitudes machistas rejeitando as mulheres não “virgens”. Este contexto dificulta o relacionamento entre as moças, de quem são cobradas atitudes castas, e os rapazes, que têm de provar sua masculinidade precocemente, com o início muitas vezes prematuro da atividade sexual, por pressão social. Outro aspecto importante é a defasagem existente entre a maturidade biológica, alcançada mais cedo, e a maturidade psicológica e social que cada vez mais tarde se torna completa. Perante este quadro os jovens se encontram perdidos, sem um parâmetro social claro de comportamento sexual e com uma urgência biológica a ser satisfeita em idade precoce. (Idem, 2011)

 

 

A escola precisa ainda buscar a superação de conceitos e preconceitos como os descritos em Taquete (2011), quando demonstra a dicotomia vivida no recesso das famílias em pleno século XXI, no auge da comunicação virtual, no auge das facilidades de acesso à informação, aos meios contraceptivos e, infelizmente, ainda com tantos adolescentes contaminados com tantas doenças

 

sexualmente transmissíveis, com tantas adolescentes grávidas aos 12 ou 13 anos.

Esses fatos implicam na afirmativa de que a sexualidade vem sendo exercida de forma não responsável e de que há alguma falha de comunicação entre a família e seus filhos e também entre a escola e sua clientela infantil e juvenil.

Mesmo após mais de uma década da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, é perceptível as dificuldades que a escola ainda enfrenta no tocante à sexualidade e suas manifestações, por vezes de forma exagerada, especialmente por parte dos adolescentes, mas também por parte das crianças, em seu cotidiano,.

Essa falha precisa ser superada ou não haverá mudanças no panorama que se apresenta. A escola deve se reinventar na tentativa de aprimorar a formação de seus profissionais para que estes estejam aptos a enfrentar e a superar as dificuldades que se fazem presente nessa caminhada, a do acesso à informação e à segurança.

É fato que crianças, adolescentes e jovens, sempre chegarão à escola, a sexualidade continuará sendo uma constante nesse cotidiano e, depende da informação ou formação recebida para que especialmente adolescentes e jovens percebam essa sexualidade como algo natural, a ser exercido com prazer e responsabilidade, para que possa ser exercido de forma plena e na hora certa de cada um, sem ceder a pressões externas, obedecendo apenas àquilo que acha certo ou de acordo com as noções recebidas em família.

A escola não deve ocupar o espaço que é da família, mas também não pode se furtar ao seu papel.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Muito se fala em sexo com segurança, em gravidez adolescente, em prevenção da saúde, de forma a evitar o contágio por doenças sexualmente transmissíveis, de maior ou menor gravidade.

07

 

O que é necessário é sair do campo do discurso e entrar no campo da ação, da real intenção de tratar de sexualidade como mais um assunto corriqueiro, que está cotidianamente presente na vida de qualquer pessoa, independentemente da idade que tenha, seja ela criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso.  A sexualidade pode e deve ser vista com algo inerente ao ser humano.

É necessário que não só a escola faça essa opção pela busca do acesso ao diálogo com crianças, adolescentes e jovens. É preciso que a família também o faça, de modo que ambas as instituições, a pública e a privada se aliem na busca de superar os problemas que estão postos, dos quais as Doenças Sexualmente Transmissíveis e a gravidez na adolescência representam apenas a ponta do iceberg. O problema é sério, pois a falta de diálogo entre família, escola e adolescente pode trazer conseqüências muito sérias.

É a presença do diálogo que vai permitir que essa ponte seja construída e atravessada, especialmente até os adolescentes, a faixa etária mais suscetível à mídia, à opinião alheia, enfim a todo tipo de construção psíquica boa ou não. O que se pretende é que essa construção seja para o lado positivo da sexualidade.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília; MEC/SEF, 1997. 146 p.

 

-----------. Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997. 164p.

 

----------. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais – terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998. 436 p.


 

 

 

 

Programa Agrinho: Saúde: caderno do professor – Brasília: LK Editora e Comércio de Bens Editoriais e Autorais Ltda., 2008. 120 p.: il

 

TAQUETE, Stella R. Sexualidade na Adolescência. A saúde de adolescentes e jovens: competências e habilidades. Disponível em: portal.saúde.gov.br/portal/arquivos/.../adolescente/textos.../tc_14.htm. Acesso em 22/11/2011

 

 

 

AGRADECIMENTOS

 

            Especialmente a Deus, cuja presença em nossa vida é insubstituível, à Coordenadora do Curso, pelos constantes incentivos e à família, cujo apoio foi fundamental para que não abandonássemos o curso.

 

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