Autor: Monteiro, Elisangela, PORANGABA, Sandra de Souza Menezes e Regina Pereira da Silva Porang
Artigos dos Professores, Publicado, 21/12/2011 às 00h24m. Visualizações 5892
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA 1
MONTEIRO, Elisangela[2]
PORANGABA, Sandra de Souza Menezes[3]
RESUMO
Neste trabalho, busca-se evidenciar fatos sobre gravidez na adolescência, demonstrar as conseqüências causadas nessa fase da vida. Para o seu desenvolvimento foi elaborada uma revisão bibliográfica através de autores que tratam desse assunto, onde verifica que a gravidez na adolescência pode ser fruto de vontade, falta de diálogo com os pais acerca de sua sexualidade, falta de diálogo com o parceiro, não pedindo ao mesmo que utilize camisinha, ou até mesmo falta de informação sobre métodos contraceptivos e conseqüente escolha de métodos pouco eficazes como o coito interrompido e tabelinha, por exemplo; o medo de que seus pais achem camisinha ou pílulas anticoncepcionais em suas bolsas. Entretanto, nem toda gravidez na adolescência é algo não planejado e não desejado. Algumas adolescentes imaturas e apaixonadas, movidas pela idéia romântica de ficar com o namorado para sempre, engravidam sem que os namorados saibam dessa vontade de prendê-los pela barriga, outras o fazem pelo desejo de terem um filho mais jovem, outros o fazem em prévio planejamento e acordo com o namorado para tornarem-se livres dos pais, entre outras várias razões.
PALAVRAS-CHAVE: 1. Sexualidade; 2. Adolescência e gravidez; 3. Métodos anticonceptivos.
INTRODUÇÃO
Vive-se em uma sociedade onde é crescente o número de mães muito jovens, que dão à luz em uma época em que poderiam estar desenvolvendo suas capacidades emocionais e cognitivas, além de desfrutar a vida e adquirir experiência, dentro da liberdade que existe nesse período.
Godinho ET AL (2006), afirma que durante o período de transformações, o apoio dado às adolescentes é muito importante, para que elas tolerem as mudanças a que estão sujeitas e não se sintam vulneráveis às transformações biopsicossociais. Para tanto, a família deve estar bem estruturada, a fim de não facilitar a ocorrência, comum entre adolescentes, de gravidez precoce.
A família é o primeiro modelo, é o referencial para que o adolescente possa enfrentar o mundo e as experiências que ainda estão por vir. Daí a necessidade de diálogo entre pais e filhos para que estes não busquem informações erradas ou incompletas com amigos ou parceiros que também não detém conhecimento suficiente.
O fato da gravidez na adolescência tem se tornado um problema de saúde pública que precisa ser mais bem compreendido.
2. GRAVIDEZ PRECOCE
É uma das ocorrências mais preocupantes relacionadas à sexualidade da adolescência, com sérias conseqüências para a vida dos adolescentes envolvidos, de seus filhos que nascerão e de suas famílias.
Isto ocorre porque a atividade sexual do adolescente é, geralmente, eventual, justificando para muitos a falta de uso rotineiro de anticoncepcionais, questão também ligada ao pensamento da maioria, de que isso só acontece com os outros.
A grande maioria das adolescentes também não assumem diante da família a sua sexualidade, nem a posse do anticoncepcional, que denuncia uma vida sexual ativa. Apesar de se viver no século XXI, a maioria das meninas ainda pensa que é grande “[...] a dificuldade de falar com os pais sobre sexo.” (UNICEF. BRASIL, 2011: p. 14)
Assim sendo, além da falta ou má utilização de anticoncepcionais, a gravidez e o risco de engravidar na adolescência pode estar associados a uma menor auto-estima, a um funcionamento familiar inadequado, a presença de uma grande permissividade, falsamente apregoada como desejável a uma família moderna ou à baixa qualidade de seu tempo livre.
De qualquer forma, o que parece ser quase consensual entre os pesquisadores, é que as facilidades de acesso à formação sexual não tem garantido maior proteção contra doenças sexualmente transmissíveis.
Mas, como aparece em Eleutério Júnior (2007: p. 9) ainda “[...] Assim, é interessante que se tenha noção, mesmo que superficial das possíveis doenças que realmente estão relacionadas à prática sexual [...]”.
É fato, também que mesmo assim, não há como garantir que não acontecerá a gravidez nas adolescentes, em função da informação que recebam, pois não é só a falta de informação que faz com que adolescentes engravidem.
Em busca de procurar diminuir o número de adolescentes grávidas, que infelizmente parece aumentar ao invés de diminuir, o Governo Federal propôs com a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação, uma coleção de textos criados com o intuito de apoiar os profissionais da educação na busca de solução para grandes problemas ligados ao processo de ensino-aprendizagem, à educação e ao cotidiano escolar.
Além dos temas já consagrados como alfabetização, cidadania, pluralidade cultural, ética e tantos outros assuntos, cuja discussão é extremamente necessária, há a proposição do trabalho de
[...] Orientação Sexual também contribui para a prevenção de problemas graves como o abuso sexual e a gravidez indesejada. As informações corretas aliadas ao trabalho de autoconhecimento e de reflexão sobre a própria sexualidade ampliam a consciência sobre os cuidados necessários para a prevenção desses problemas. (PCNs, 2001: P. 14)
Portanto, é um problema que deve ser levado muito a sério e não deve ser subestimado, assim como deve ser levado a sério o próprio processo do parto. Este pode ser dificultado por problemas anatômicos e comuns da adolescente, tais como o tamanho e a conformidade da pelve, a elasticidade dos músculos uterinos, os temores, a desinformação e as fantasias da mãe ex-criança,
Kalina (1999), define que na adolescência, ocorre uma profunda desestruturação da personalidade e que com o passar dos anos, vai acontecendo um processo de reestruturação.
Esse processo é baseado nos antecedentes histórico-genético e do convívio familiar e social, e também pela progressiva aquisição da personalidade do adolescente, é possível entender que esta reestruturação tem em seu eixo o processo de elaboração dos lutos, a cada etapa deixada sucessivamente, para a aquisição de uma outra.
A questão familiar e social funciona como co-determinante no que resulta enquanto crise, especialmente a conquista de uma nova identidade, num momento da vida em que tudo é efervescência.
Afinal de contas, sabe-se que a adolescência é, por excelência, a fase das transformações, como o são todas as etapas da vida. Acrescente-se a especificidade da adolescência, uma vez que nesse período as transformações são muito rápidas, com tudo acontecendo ao mesmo tempo, as transformações físicas, as questões sentimentais, a busca pela auto-afirmação, pela aceitação por parte do grupo, enfim é o momento do auto-conhecimento. (EISENSTEIN, E. MATHEUS, 2006)
Sabe-se o quanto é importante passar por todas as fases naturais que a vida oferece, como a infância, a adolescência, a fase jovem, a fase adulta e a velhice, que são períodos em que se desenvolvem estruturas que se auxiliam, uma fase após a outra.
Costa (1997), relata sobre a criança de hoje, que é bastante precoce nas questões da sexualidade, por meio de sua curiosidade em querer conhecer como se formam os bebês e como ocorre a intimidade sexual.
Há muitos casos, onde as crianças com idade a partir de seis anos que já desejam olhar revistas de mulheres nuas. Nesta esfera, encontra-se a liberação sexual vivida atualmente, a qual contribui para o aumento do número de adolescentes grávidas, além dos importantíssimos elementos psicológicos e afetivos possivelmente presentes.
Segundo Vitalle e Amâncio (UNIFESP), quando a atividade sexual tem como resultante a gravidez, gera conseqüências tardias e a longo prazo, tanto para a adolescente quanto para o recém-nascido. A adolescente poderá apresentar problemas de crescimento e de desenvolvimento, emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizagem, além de possíveis complicações durante a gravidez e problemas no parto.
Deve-se especialmente a tais circunstâncias, o fato de que alguns autores considerem a gravidez na adolescência como sendo uma das grandes complicações da atividade sexual precoce.
Ainda segundo essas autoras, o contexto familiar tem uma relação direta com a época em que se inicia a atividade sexual. As adolescentes que iniciam vida sexual precocemente ou engravidam nesse período, geralmente vêm de famílias cujas mães se assemelharam a essa biografia, ou seja, também iniciaram vida sexual precoce ou engravidaram durante a adolescência.
Acredita-se assim que a família é um referencial para a vida e a formação de um adolescente saudável e consciente. Os pais precisam sempre estar muito presentes, mas uma presença com qualidade, ou seja, atenta e comprometida com a verdade.
Isto significa que eles farão um grande esforço por acertar, por procurar o melhor caminho em cada situação, sem ter medo de ser chamados de exigentes, caretas, chatos, sabendo que estão se conduzindo e conduzindo seus filhos para exercer sua liberdade e/ou sua sexualidade com consciência e responsabilidade, o que pode vir a fazer toda a diferença na vida dos mesmos, quando estiverem vivendo por si.
Os filhos gostam de ser exigidos, dentro das possibilidades de cada fase, porque isso indica que ocupam um lugar importante na vida dos pais. Na dúvida sobre como agir nas diversas fases da infância, os pais deveriam buscar o conselho de orientadores familiares, fazer cursos, ler livros, procurar enfim, aquela informação que possa vir a fazer a diferença na hora de conversar com seus filhos e tirar suas dúvidas.
Assim, percebe-se que é preciso ser pai e mãe com mentalidade profissional, de quem prepara seus filhos para viver bem cada fase de sua vida, ou como afirma Chalita (2004, p. 11) “[...] Há muitas formas de transmissão de conhecimento, mas o ato de educar só se dá com afeto, só se completa com amor.”
É esse afeto que permitirá aos adolescentes se abrirem com seus pais ou responsáveis e procurar aí as informações de que precisa, sem recorrer ao primeiro que aparecer.
Assim, o diálogo ainda é a melhor arma, tanto dentro quanto fora de casa, buscando o envolvimento do jovem com a família, que assim estaria pronta para acatá-lo, recebê-lo e ajudá-lo naquilo que for solicitada.
E é fora de casa, especialmente na escola, que são tecidas relações que influenciarão crianças, adolescentes e jovens por toda a sua vida, sejam essas relações estabelecidas com colegas de turma, professores ou outros profissionais que estejam dentro da escola e que poderão fazer a diferença, especialmente na vida da menina, possibilitando evitar assim uma gravidez precoce que irá comprometer todo o seu futuro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gravidez na adolescência ainda é um problema muito presente no século atual. Um tema recorrente na mídia, nas rodas de discussões, nas palestras promovidas por profissionais da educação e da saúde, quando são chamados a falar de questões ligadas ao exercício da sexualidade pelos adolescentes e jovens e, que no entanto, ainda não conseguiram encontrar um meio de chegar a estes, ficando presos ao didatismo sem diálogo.
O século XXI tem sido o século da rapidez nas comunicações, com tantos avanços tecnológicos, mas tem sido também o século de problemas de saúde, especialmente a pública, quando são veiculadas tantas notícias envolvendo histórias de meninas que tem filhos cada vez mais novas.
Muitas são vítimas de violência sexual por parte de familiares ou desconhecidos. No entanto, muitas se encontram nessa situação pela falta de diálogo com seus pais ou responsáveis, pois a sexualidade continua a ser tratada com muita hipocrisia e com muito machismo, com práticas herdadas de um tempo em que o patriarcalismo era a prática comum dentro das famílias e que deixou um ranço nas relações que ainda não foi superado.
Para muitos pais ainda é natural que os filhos saiam por aí em busca de aventuras sexuais e que suas filhas tenham que se casar virgens, intocadas. Esquecem-se, no entanto, que da mesma forma que seus filhos vão a busca das filhas de outras famílias, as suas filhas estejam à mercê dos filhos de outrem e, de que há muitas e variadas formas de se burlar a tão famosa virgindade.
A grande discussão que fica patente é a de que é necessário um diálogo aberto, que permita aos adolescentes, especialmente às meninas, a chance de expor suas dúvidas e principalmente seus pensamentos e sentimentos, sem o medo de serem julgadas e/ou condenadas por aqueles a quem está recorrendo e de quem espera receptividade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997. 164p.
CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. – São Paulo: Editora Gente, 2001 1ª ed., 2004 edição revista e atualizada.
COSTA, Moacir. Sexualidade na adolescência: dilemas e crescimentos. 11ª ed. Porto Alegre. 1997.
ELEUTÉRIO Júnior, José. Doenças sexualmente transmissíveis. 2. Ed., 1ª reimpressão. – São Paulo: Contexto, 2007. (Conhecer & Enfrentar)
EISENSTEIN, E. MATHEUS, A. T. Fala Sério!: perguntas e respostas sobre adolescência e saúde. Ilustrações André Zan. – Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2006
GODINHO, R. A. et al. Adolescentes e grávidas: onde buscam apoio? In: Revista Latino Americana de Enfermagem. 2000. 8 (2): pp. 25-32
KALINA, Eduardo. Psicoterapia de adolescentes: teoria, prática e casos clínicos. 3ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
UNICEF. Eu preciso fazer o teste do HIV/AIDS? Guia do Professor. Ministério da Saúde; Ministério da Educação. Brasil. 2011
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a Deus, que nos deu a fé. Aos familiares. Aos colegas de curso, pelas discussões no decorrer das reuniões, que permitiram a presente escrita.